Oficina A quem pertence a cidade? - IV Jornada de Filosofia Política UnB, 2017
As oficinas experimentais que aqui narramos ocorreram dentro da programação da IV Jornada de Filosofia Política – Pensar a cidade, organizada pelos docentes Maria Cecília Pedreira de Almeida, Gilberto Tedéia, Marcelo Mari e Alex Calheiros. Os participantes pertencem ao PIBID UnB.
Vale lembrar também que o modelo da oficina deve-se a uma “metaoficina” oferecida por Benedetta Bisol e Gigliola Mendes em reunião do PIBID, no primeiro semestre de 2017, dentro da formulação do projeto de extensão citado. Fundamental para a elaboração da oficina foi também a palestra do arquiteto Maurício Goulart e do historiador Thiago Perpétuo, ambos do IPHAN, para o PIBID. A eles devemos, ainda, os trechos de Lucio Costa e da Carta de Atenas e os mapas utilizados na construção da atividades.
Às 9 h do dia 27 de outubro, nos reunimos no anfiteatro 19 do ICC – UnB para montar o cenário da oficina. Dividimos o espaço do anfiteatro em quatro, para comportar os grupos. Em cada um dos cantos do auditório, foi disposto, fixo no chão, um mapa do entorno de Brasília. O mapa foi retirado do Goolge e impresso na proporção 90 por 120 cm. Ou seja, pelo seu tamanho, permitiria a leitura e manipulação conjunta de vários estudantes, além de uma certa dimensão espacial. O ideal seria que fossem ainda maiores, para incentivar a perspectiva corporal de percepção do espaço, mas problemas técnicos com a plotagem precisam ser solucionados nesse sentido. Do lado de cada um dos mapas, disponibilizamos uma caixa contendo materiais de pintura, canetas, pincéis marcadores, giz pastel, revistas para recortar, cola e tesoura. Desse momento inicial de montagem da cenografia, por assim dizer, participaram os estudantes Bruno Vieira Gomes, Igor Machado, Paula Cristina Calazãens, Gabriel Vieira Alves e Diego de Souza Gomes, todos bolsistas do PIBID.
Os estudantes chegaram com o prof. Antônio Kubitscheck, com o coordenador do PIBID Pedro Gontijo, e com as bolsistas Vitória Nara de Freitas Paulo e Laisla Santos Barros Pereira. Eram dois ônibus de estudantes de ensino médio da escola de Taguatinga, somando por volta de 50 participantes. Ao chegarem e se acomodarem nas cadeiras do auditório, houve uma breve apresentação do PIBID e da Jornada Pensar a cidade, enquanto circulava entre os estudantes um saquinho com papeis coloridos. A ideia era dividir os grupos em cores por este sorteio, para evitar a formação de grupinhos e panelas. Os grupos se dividiram então em equipe Vermelha, aos cuidados de Gabriel e Vitória, equipe Amarela, com Igor e Bruno, equipe Verde, com Paula e Diego, equipe Azul, com a coordenadora do PIBID, Priscila, Laisla e Gigliola Mendes, membro do projeto de extensão original. Cada equipe seguiu para um dos cantos do auditório, já devidamente preparado com os mapas e materiais didáticos.
Cada grupo então recebeu textos norteadores. Um deles sobre a origem e significado da palavra Utopia, retirado da introdução do livro de Thomas More na edição da Martins Fontes; um trecho de entrevista de Lucio Costa sobre a utopia de Brasília, revista anos depois de sua construção, a partir da Rodoviária; as diretrizes gerais da cidade moderna da Carta de Atenas (morar, divertir-se, trabalhar, circular), e um trecho de A Cidade do Sol de Tommaso Campanella, selecionado pela bolsista Verônica Maciel.
Em seguida a esse primeiro momento de questionamentos, sugerimos pensar o mapa. Onde cada um mora? Como chegam à escola? O que é uma cidade? O que não é uma cidade? Para que serve e como funciona uma cidade? – entre outras questões pensadas em reunião anterior do PIBID. E a partir dessas perguntas sugeridas pelos monitores, os estudantes foram chamados a intervir no mapa, pensando as dimensões de morar, estudar, trabalhar e circular, com a proposta “utópica” de instigar a imaginação política de mudanças e soluções.
Após mais ou menos 40 minutos de debates e atividades de colagem e pintura, os grupos levaram os seus mapas para a lousa. Os quatro mapas foram dispostos lado a lado e todos os participantes acomodados nas cadeiras do auditório. Nesse momento final da oficina, os monitores chamavam então suas equipes para a frente do auditório, ao lado de seu mapa, para defenderem a sua cidade quanto às intervenções. Foi uma das partes mais estimulantes, pois os estudantes, diante de uma espécie de competição saudável entre as quatro equipes, começaram a reformular o que pensaram, explicando e mesmo revendo as propostas. A exposição dos motivos das colagens e pinturas ao público levou mesmo aqueles que tinham tomado o exercício como brincadeira à elaboração discursiva de questões e soluções. Nesse sentido, foi o momento de maior elaboração de um inventário de problemas e de trabalho conjunto de imaginário político. Faltou, talvez, uma relação entre este momento e os textos iniciais norteadores do debate.
Muitos problemas e soluções foram levantados: falta de escolas e de lugares de lazer, levando até à ideia jocosa da construção de uma grande praia na área de São Sebastião; redesenho geral das áreas de circulação, descentralização nuclear da cidade, em uma proposta bastante complexa de novos fluxos urbanos; problemas com segurança, transporte, a preocupação com novos centros tecnológicos, com outras fontes de energia. Surgiu brevemente mesmo a preocupação com sítios arqueológicos.
Os estudantes seguiram então para o anfiteatro 18, em frente ao Departamento de Filosofia, e foram recebidos pela mesa do almoço preparado por Valdine Souza e Liliane Belo, secretárias do Departamento de Filosofia.
Fotos: Gabriel Vieira Alves