Preparação para as oficinas de Planaltina 2017/2018 – Discursos sobre os métodos
Após as experiências com o Pibid - Filosofia, o grupo buscou tornar-se independente, a partir de outras parceria, inscrevendo-se em um Edital do Decanato de Graduação da UnB. O edital tinha, entre outros pontos, um forte acento na formação docente e na integração de práticas pedagógicas diferenciadas às disciplinas obrigatórias dos currículos de licenciatura, buscando ainda relação com os estudantes egressos. O objetivo final era pensar soluções para a evasão, notadamente dos licenciandos. Para este projeto, recebemos cinco bolsas.
Os docentes coordenadores, com Gigliola Mendes e Bianca Machado, se reuniram para pensar que tipo de curso de formação poderia ser interessante em um caso como este, no qual não se trata de expor um conteúdo e aplicar um método, mas antes de investigar coletivamente formas de abordagem metodológicas. O curso de formação – ou encontros de discussão – , que ocorreu durante as quartas-feiras de novembro de 2017 a abril de 2018, proporcionou a experiência criativa do ciclo de oficinas A quem pertence a cidade? Planaltina. Vamos descrever brevemente os momentos desses encontros.
A princípio, com a participação dos cinco bolsistas, dos docentes, de Bianca Machado, professora da escola de Planaltina, Gigliola Mendes e Benedetta Bisol, da pós graduação do FIL, iniciaram-se os debates em torno do projeto. Como os estudantes bolsistas eram egressos da disciplina de Mito e filosofia, no qual foram trabalhadas as noções de cidade e utopia (vide Outras referências bibliográficas neste site) , o primeiro movimento foi recuperar a mediação original com o projeto de Luca Mori, Il gioco dele 100 utopie/ O jogo das 100 utopias, e as adaptações para adequá-lo a um contexto de ensino médio e de cidades do entorno de um núcleo “utópico” projetado a partir de um vazio inaugural, o Plano piloto de Brasília. A princípio, nos parecia claro que a ideia de recriar uma cidade ou sociedade em uma ilha, como propõe Luca Mori, soaria problemático aos estudantes brasileiros e, especialmente, brasilienses. Utilizou-se então a noção de inventário, na qual se busca primeiro elencar os problemas para, em seguida, colocá-los em perspectiva projetiva – ou utópica – de imaginação politica.
As primeiras reuniões apontaram para uma ideia de jogo, chegou-se a pensar em uma complexa partida de cartas, em que um grupo interferiria e até mesmo prejudicaria o desenvolvimento da criação da cidade do outro, propondo uma estrutura que contrabalanceava propostas e consequências, projeto e acaso. Um grupo proporia a construção de uma represa para solucionar determinado problema, em seguida, em uma cartada do adversário, poderia advir uma enchente, por exemplo. Essas conversas abriram um parênteses para se discutir perspectivas lúdicas de transmissão de conteúdos, jogos didáticos de tabuleiro etc. Outra questão preeminente nesses primeiros encontros, trazida por Bianca, foi a apresentação do Projeto pedagógico e das várias atividades do ambiente escolar CEM 02, Planaltina, onde pretendíamos atuar. Também nesses primeiros encontros, criamos este site e Lívia Campos produziu nossa página no facebook.
Na volta das férias, oscilando entre o modelo do jogo e o da oficina, o grupo estudou outras propostas similares. No caso do jogo, estudamos tanto o projeto da bolsista Ana Paula Lopes de jogo de tabuleiro sobre o livro Cidade das Damas, produzido para uma disciplina de graduação, quanto o projeto da Universidade Federal de Pernambuco sobre jogos de tabuleiro e cartas para ensinar História da África (vide: https://www.youtube.com/watch?v=gOPMYn425OI). Comparamos essas abordagens a outras mais próximas de um modelo oficina, ou seja, mais próximas de um debate e menos estruturadas quanto a regras, tais como as oficinas do projeto OCA (vide: http://diplomatique.org.br/tv/adolescentes-da-estrutural-df-pesquisam-e-discutem-sua-identidade-na-periferia/) . A partir dessas comparações, estabelecemos um primeiro esboço da nossa atividade, que conservaria elementos lúdicos de confrontação dialógica entre dois grupos, aproximando-se, entretanto, mais ao modelo de debates de uma oficina.
O passo seguinte foi escrever, em grupo, um projeto para levar à coordenação da escola. Esse texto foi produzido com base no Projeto pedagógico CEM 02 Planaltina de 2017, tentando estabelecer relações entre o ambiente escolar e a nossa proposta. Nessa nossa proposta, estabelecemos as diretrizes gerais da atividade: fixamos o número de três encontros, nos quais trabalharíamos com dois grupos de estudantes; fechamos a ideia de que os mapas não seriam impresso, como nas oficinas precedentes, mas projetados por slides sobre uma folha branca para permitir seu livre desenho pelos alunos; reinterpretamos a proposta de que haveria confronto de equipes, como pensado no modelo inicial do jogo de cartas, propondo uma troca dos mapas produzidos por um grupo, para serem retrabalhados pelo outro, propiciando, senão propriamente um jogo, um elemento dinâmico de relações de causas e consequências.
Nessa etapa do curso, problemas com a liberação das bolsas, dificuldades na troca de bolsistas – nesse momento contamos com a chegada de Igor Machado ao grupo, no lugar de Kelvin Ricardo – e outros contratempos, levaram a um esvaziamento nas presenças e debates. Foi também nessa etapa que iniciamos a leitura de textos teóricos para dar sustentação aos problemas metodológicos que surgiram. Lemos e discutimos, ou pelo menos tentamos, o capítulo 4 do livro Metodologia do ensino de filosofa, de Silvio Gallo, que trata de um modelo para oficinas do conceito, em contraposição ao texto de Luca Mori, “O que torna filosófica uma conversa” (vide Nossas publicações, neste site), traduzido anteriormente por Benedetta Bisol.
O primeiro contato oficial com a escola foi feito pelo intermédio de Bianca Machado, os docentes da UnB foram à escola CEM 02 Planaltina e apresentaram o projeto às coordenadoras. A atividade foi prontamente acolhida e as datas marcadas.
Iniciou-se, então, um novo momento do curso/encontros. Com o início do semestre, chegaram ao grupo os estudantes André Whilds e Maria Helena Almeida Freitas, de estágio docente, a estudante de sociologia, Ângela Carvalho, a estudante de filosofia, Luiza Lorentz, cuja monografia versará sobre o projeto, e a professora de Filosofia da educação, Glaucia Figueiredo. Foi o momento mais fecundo desse projeto, com a leitura do esboço da versão para o português dos primeiros capítulos do livro Utopia das crianças, de Luca Mori, cuja tradução está em curso, e com a experimentação das etapas da oficina, selecionando mapas de Planaltina e desenhando-os a partir da projeção dos slides.