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Desejo e utopia, oficina na CEMEB - Elefante Branco, maio de 2019

Thomas More foi autor de uma das obras mais influentes e discutidas em tempos atuais. A obra utopia remete a uma construção de uma sociedade ideal a partir das motivações que seu idealizador tinha, o livro tem como objetivo apresentar uma crítica a sociedade inglesa do século XVI.


Morfologicamente falando, a palavra utopia foi criada a partir da origem na língua grega e se pode compreender a sua composição da seguinte maneira, ou seria um advérbio de negação, topos tem o significado de lugar e por fim ia, que significa qualidade ou estado, por tanto a palavra utopia tem em sua tradução literal o significado de “lugar nenhum”, é nítida a ironia no título da obra de Thomas More, no entanto essa abstração por ele proposta se mostra importante, para se entender qual o objetivo/desejo dos cidadãos para que a vida na polis seja mais feliz/ satisfatória.


Pensando a partir deste conceito, e das ideias feitas pelo italiano Luca Mori foi criada a oficina “a quem pertence a cidade? ” Que tem como objetivo esse estudo político a respeito da construção de utopia por alunos de ensino médio. Sua metodologia se baseia em uma apresentação breve sobre o conceito e as histórias que se tem a construção de uma utopia, a separação da sala em geralmente dois grupos e por fim o debate sobre as construções feitas.


Esse trabalho tem como objetivo a descrição de fatos e a analise realizada na oficina feita no colégio Elefante Branco, localizada na SQS 904 de Brasília, Plano piloto, apesar de ser uma escola pública, está sediada em uma das regiões mais nobres da capital

Oficina Elefante branco


A oficina na escola Elefante banco foi marcada para o meio da manhã, em uma sala de aproximadamente trinta alunos com o dispositivo de vídeo. Para o início da programação a professora Priscilla havia montado uma apresentação em slide para que os alunos do colégio pudessem compreender o significado da ideia de utopia e então pudessem elaborar e construir a sua utopia a partir dos elementos disponibilizados. Nesse slide explicou-se brevemente o significado e as origens da palavra utopia e também foram mostrados trechos das ideias da República de Platão, do próprio livro de Thomas More e também apresentou-se uma versão brasileira de uma utopia, trechos do livro Macunaíma de Mario de Andrade.




Após a apresentação, os alunos foram divididos em dois grupos para que se pudesse construir a própria utopia a partir da montagem do mapa do Distrito Federal. Para isso foi disponibilizado materiais como canetas coloridas, tesouras, revistas, para que os alunos pudessem fazer as alterações que fossem necessárias para a representação daquilo que foi imaginado. Nos dois grupos se percebia uma diferença de gênero, um grupo com predominância feminina, e outro de predominância masculina. Para a montagem do mapa foi dado um tempo de aproximadamente 30 minutos, para posteriormente se dar início as apresentações.


O primeiro grupo a apresentar foi o de predominância masculina. Em seu desenho de utopia se via uma proposta de cunho liberal economicamente falando. A cidade se sustentaria de empregos gerados por indústria na região metropolitana do mapa, algo que aqueceria a economia e levaria à sobrevivência do que nelas trabalhassem. Em relação à proposta para o transporte coletivo, foi proposta a construção de metrôs com iniciativa privada, este ligaria a cidade de maneira circular. Quanto à proposta educacional, a ideia do grupo era a de que se fizesse uma escola que não apresentasse ideologia (em clara alusão à ideia da Escola sem partido), com a intenção de que, se a escola não apresentasse uma ideologia, e formasse um funcionário eficiente, os conflitos presentes na sociedade diminuiriam, vale frisar a importante observação de que as escolas seriam privadas. E por fim, na proposta para a solução de conflitos e da prática criminosa, foi apresentada uma proposta coercitiva, com a ideia de que a punição mais severa teria como consequência a diminuição da prática criminosa.


Após a apresentação do grupo, foi aberto o espaço para perguntas tanto dos alunos que integravam o outro grupo quanto para os integrantes da oficina. A primeira pergunta feita foi em relação à diferença econômica que esse cenário criaria. A resposta do grupo foi que não existe uma sociedade sem diferença social, e que o comercio (por conta do alto nível de concorrência) resolveria tal questão. O segundo levantamento feito foi em relação à formação dos cidadãos, se isso não levaria a uma destruição do raciocínio crítico. Para o grupo, a origem do pensamento crítico é autônoma da formação escolar. Por último, foi questionado em relação ao monopólio que se criaria em relação ao transporte, porém por falta de tempo, o grupo não conseguiu expor seu ponto de vista.




O segundo grupo, de maioria feminina, apresentou uma proposta com uma visão completamente diferente a do grupo anterior, com uma presença maior do estado, com o intuito de levar a sociedade ao “wellfare state” (em português a tradução se daria por bem-estar social). A geração de empregos também se daria por industrias, porém, a economia da cidade seria impulsionada pelo comercio e pelo turismo, que o parque de diversões localizado na região norte do mapa atrairia. No que tange o transporte coletivo, se tem um ponto semelhante com o primeiro grupo, já que se foi escolhido o metrô para tal função. A proposta educacional da cidade se mostra completamente diferente, a começar que a proposta desse segundo grupo é o financiamento público da educação, com uma formação de influência construtivista e que o pensamento crítico pudesse ser construído em ambiente escolar. No que tange a solução de conflitos, a proposta apresentada pelo grupo seria uma tentativa de ressocializar o infrator dentro da sociedade, garantindo a este um emprego e certas garantias para quando voltasse a vida fora desse centro de ressocialização.


A este grupo, o primeiro ponto a ser levantado é o de que todo esse aparato seria muito custoso aos cofres públicos, qual seria a origem deste dinheiro. O grupo argumentou que, a arrecadação de impostos do comercio, do turismo e das industrias conseguiria ser fonte suficiente para pagar todas as despesas estatais. O segundo ponto a ser questionado nos debates pelo primeiro grupo foi a origem do dinheiro que financiaria a construção do parque, que seria a atração turística desejada pelo grupo, a explicação foi que o governo, ao construir o parque, estaria fazendo um investimento e não um gasto, já que obteria o retorno financeiro.




Por fim, no intuito de fazer uma charge, um dos alunos do segundo grupo criou no mapa a sua própria utopia, com um desenho semelhante as sociedades medievais e de certa maneira com a república de Platão. A sua utopia consistia em um modelo político na qual ele era o rei e todos os outros habitantes teriam funções pré-designadas sobre suas funções no reino. Economicamente falando o reino sobreviveria da extração do ouro existente em seu território.




O exercício da análise das utopias criadas em determinado contexto se faz necessário a partir do ponto em que, pelo exercício imaginário, além da possibilidade de se vislumbrar a respeito de uma visão ideal de futuro, a utopia provoca o sentimento de desejo; este sentimento surge a partir do momento em que se sente falta de algo. Portanto, ao se visualizar a idealização feita, é possível deduzir o que as pessoas que as fizeram sentem falta na sociedade.


No caso especifico da oficina realizada, se mostra a necessidade, de acordo com os alunos, de se ter mais empregos, uma melhora nas relações humanas dentro da sociedade, se melhorar o aspecto da segurança, se apresenta certa insatisfação com o modelo de educação atual e também com o transporte coletivo. Porém, a maneira de se alcançar tais objetivos é completamente diferente, o primeiro grupo se mostra descrente em relação a uma administração pública, e vê como solução a iniciativa privada e a concorrência entre as pessoas como a melhor maneira de se realizar tais objetivos. Enquanto o segundo grupo construiu uma ideia de que em uma administração pública bem-feita, o alcance destes objetivos fica mais próximo. Portanto o debate realizado em linhas gerais realizado nessa oficina não foi o que se deseja alcançar, mas sim como se alcança tal desejo/objetivo.

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