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A cidade sem cidade, Luziânia, quarentena de abril de 2020

Durante o período de quarentena, com a suspensão forçada das aulas presenciais, o grupo se viu diante da necessidade de intensificar uma pesquisa já em curso com meios digitais acessíveis e de baixo custo, capazes de criar elementos para discussão em sala de aula, ou em fóruns online. Mesmo que as aulas tenham sido totalmente suspensas na Universidade, ainda havia atividades no ensino médio e alguns colaboradores do grupo de pesquisa estavam na linha de frente no desafio de pensar estratégias para atividades de natureza não presencial. Pensamos então em propor uma oficina para o Colégio Estadual Professor José Carneiro Filho, em Luziânia ,no qual o prof. Suelber Nogueira leciona.


No grupo das oficinas, em conversas de WhatsApp e em reuniões virtuais, procuramos pensar em adaptações do modelo sobre o tema da cidade. A cidade sem cidade surgiu dessa percepção de que o espaço de convívio é um dos temas centrais – topos – da discussão, ou seja, a territorialidade é elemento capital da noção de cidade, a partilha dos lugares, desde Platão, um dos tópicos da constituição da pólis. Pensou-se, a princípio, que o elemento da territorialidade na confecção dos mapas poderia ser mantido, se disponibilizássemos um mapa em um drive virtual para livre acesso dos estudantes. Essa ideia, entretanto, esbarrou em entraves técnicos, pois o acesso a plataformas e programas de manipulação gráfica não é tão difundido. Sem contar com a presença e com a projeção espacial dos mapas, cuja dimensão corporal era parte central do debate original das oficinas, não podíamos contar também com esse último elemento de territorialidade, a cartografia da cidade. Pensamos então em pesquisar outros dispositivos, descobrindo por fim um programa acessível a todos para criação de vídeos, o adobe spark, mas outros de mesmo modelo também podem ser sugeridos. A vantagem do programa é sua gratuidade e facilidade de manejo, além de se tratar de um dispositivo leve, passível de ser manipulado em computadores de uso comum, portanto acessível a muitos docentes que queiram refazer a experiência.


A pesquisa com vídeos já vinha sendo incorporada ao projeto. Videotextos de tom aberto, mais provocativos que conteudista ou conceituais, vinham sendo elaborados pelos integrantes do grupo, notadamente por Ana Paula Lopes, como ferramentas para provocar o debate em salas de aulas presenciais, o que poderia vir a ser estendido ao ensino virtual com proveito.


O vídeo para a oficina de Luziânia levou ainda em conta o questionamento já levantado em outras oficinas de que o aproveitamento ou utilização de materiais genéricos não produz a mesma resposta dos estudantes, se comparado a materiais preparados especificamente para cada atividade. Desse modo, o vídeo, em concomitância a um texto elaborado a partir de perguntas que levam em conta a partilha do espaço, contou com imagens da cidade de Luziânia, aliadas a outras imagens de cidades-em-geral. Da confecção do vídeo participaram, além de Suelber Nogueira e Ana Paula Lopes, já citados, Lara Aguiar e Luiz Felipe, atuais bolsistas do projeto.


Um pormenor que pode ser relatado foi que utilizamos, a princípio, imagens de bancos de dados, e uma dessas fotografias mostrava uma cidade do Oriente, como deixavam ver os letreiros. Quando percebemos, logo atinamos para a leitura subliminar que poderia levar a uma relação perigosa da crise do corona vírus de 2020 ao Oriente. No manejo de imagens, é importante esse tipo de atenção às leituras subjacentes e inesperadas. Nesse sentido, paralela à narrativa visual e textual do vídeo, cuidamos de propor uma narrativa imagética, cujas fotografias pensam o território local – Luziânia – como tecido social e histórico. Vale ainda ressaltar que o tom do vídeo, o texto e as imagens, evitaram deliberadamente polêmicas em torno da quarentena ou do contágio e da letalidade da pandemia, na medida em que não tínhamos a exata dimensão de como esses temas incidiam na vida e no dia a dia da comunidade.




Terminado o pequeno vídeo, de cerca de 3 minutos, fizemos uma chamada, no qual propúnhamos que os estudantes interagissem com o vídeo, enviando imagens, textos, fotografia antigas de sua vivência na cidade – para não estimular a quebra da quarentena sugerindo fotos externas – , etc. Essas imagens serão posteriormente incluídas no vídeo, compondo uma segunda narrativa sobreposta à primeira, mais abstrata e genérica.


Para subsidiar o debate, o grupo disponibilizou num drive textos e vídeos de apoio. Os textos sugeridos foram: trecho da introdução ao livro de Thomas More e trecho da Carta de Atenas, trechos do livro II de A República, comentados em uma aula de slides.

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